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Como esmagar pedestres com malotes de dinheiro

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Não sabe exatamente como acuar pessoas num calçadão?

Existem várias maneiras de fazer isso. Uma das mais eficientes e comuns é utilizar dois caminhões blindados cheios de dinheiro.

Parece complicado, mas não é. Apenas siga estas três orientações básicas: ignore todas as leis e sinalizações de trânsito, ignore princípios de cidadania, abandone o bom senso.

Aprenda com as empresas Protege e Brinks como se faz.

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Rua Álvares Penteado, centro, São Paulo

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Rua do Comério, centro, São Paulo

No dia 07/01, a Folha de S. Paulo publicou duas boas matérias: “Prefeitura faz blitz contra invasão de calçada na Paulista” e “Peso de carros-fortes ameaça manutenção de piso da avenida”.

A Prefeitura e o jornal finalmente dão atenção ao evidente. Claro, trata-se da Avenida Paulista. A situação acontece em toda a cidade, o que o jornal não menciona, tampouco dedica matérias. Ontem, dia 08/01, porém, o jornal publicou editorial citando o número de trabalhadores que caminham até o trabalho (dados da ótima pesquisa DNA paulistano) e também a situação das calçadas nos bairros não centrais.

Um raro editorial que deixa de ser divulgado e lido. Parece brincadeira, mas a Folha ainda acredita em conteúdo fechado, quer que as pessoas paguem para ler seus textos na web. Por isso não lincamos seus textos neste artigo.

Written by panopticosp

janeiro 9, 2009 at 19:24

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Pequenos e grandes na cidade

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Bicletada de 22 de setembro em São Paulo. Numa mesma noite, os motivos para prosseguir se colocam evidentes.

Enquanto os carros ocupam todos os espaços,

pequenos resistem retomando o espaço roubado

Written by panopticosp

outubro 5, 2008 at 21:00

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O culpado da vez

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Folha de S. Paulo, 25/05/2008, parte inferior da capa

O prefeito de São Paulo e seu secretário de transporte têm que responder ao hype implantado – mas não inventado – do trânsito na cidade.

Medidas paliativas que estão em discussão há tempos, como pedágio urbano e expansão do rodízio, foram descartadas. Ano eleitoral. Resolveram brincar com o fogo da macroeconomia. Deixaram os entregadores de mochila e capacete quietos (por enquanto) e decidiram mexer com os entregadores de chinelo e camiseta regata para não trombar com os motoristas da classe média paulistana.

Uma mãe leva o filho até a escola, são dez quarteirões. Poderia fazê-lo a pé, mas de carro é mais fácil. O tempo é curto e ela prefere aguardar na fila dupla oficial de mães e pais na porta da escola. O trânsito é um problema na vida dela, assunto diário, gera despesas e estresse mas ela nunca pensou em caminhar com o pequeno até a escola, isso é coisa de criança pobre; nunca pensou em mandar o pequeno sozinho a pé, isso é coisa de criança descuidada. Ela acha que o carro é indispensável e que o trânsito é um problema.

Um caminhoneiro vem de Minas Gerais trazendo queijo. Ele causa trânsito. Outro caminhoneiro traz farinha do interior de São Paulo. Outro colega traz café. Causam trânsito. Logo estarão proibidos de circular pelo centro expandido da cidade durante o dia. Terão que se virar de madrugada.

Talvez o cafezinho antes de ir para escola fique mais caro. Organizar um novo sistema de distribuição e contratar trabalhadores para a madrugada não é de graça. Isso não vai deixar a classe média sem manteiga no pão mas vai deixar o café de quem conta as moedas e não tem carro mais amargo, já que o açúcar ficará mais caro.

O clima da proibição vem sendo preparado pela imprensa. Um ambiente amigável é sempre parte da tática de mudanças como essa. Os folhetins são diretos, os jornais “independentes” têm que ser discretos e produzir matérias que os isentem.

No último domingo, a Folha de S. Paulo deu capa para uma matéria que “denunciava” que a CET demora uma hora para remover um caminhão quebrado das ruas. Em vez de dizer isso e apenas se passar por garota-propaganda de um plano municipal absurdo, preferiu estampar “Quebras param trânsito por 1 hora em SP” e evidenciar sua alma de folhetim de bairro.

Relacionados:
SETCESP apresenta propostas para aumentar a mobilidade urbana, artigo, SETCESP
Os carros atrapalham os caminhões, artigo, Apocalipse motorizado

PS. No Rio a idéia da restrição de distribuição está mais avançada

Written by panopticosp

maio 27, 2008 at 10:55

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Ar Limpo

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Junto com a notícia de que a despoluição do Rio Tietê, iniciada nos anos 90 e usada nas campanhas eleitorais da vida, consumiu 3 bilhões e suas águas continuam uma podridão só, vêm as declarações do prefeito Kassab de que a prefeitura de São Paulo pretende reduzir 30% da emissão de poluentes em até 3 anos.

Segundo reportagem de O Estado de S. Paulo a Prefeitura pretende renovar a frota de ônibus, utilizar motores menos poluentes, fazer inspeções anuais e já baixou decreto estabelecendo novos parâmetros para o transporte de carga no centro.

Segundo a reportagem o projeto Ar Limpo é uma continuação do Cidade Limpa, que determinou novos padrões para publicidade externa. Nas declarações nada de regras ou ao menos campanhas que limitem o transporte particular motorizado.

É um tanto simples perceber que ônibus levam um bocado de gente, caminhões um bocado de coisas para um bocado de gente e que carros levam normalmente uma única pessoa ao seu destino. A relação custo benefício é nítida, os grandes vilões da poluição do ar são os carros, conforme reafirmou o recém divulgado relatório da CETESB.

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Foto: serafini. Alguns direitos reservados.

É incrível ouvir as reclamações de motoristas revoltados com a fumaça vinda de caminhões que param ao seu lado no trânsito, os ímpetos de cidadania dos cavaleiros ignoram que as montarias que utilizam todos os dias também cagam e que, apesar da bosta ser menor, ela fede da mesma maneira.

Como nesta cidade carros são cidadãos, não há governante que ouse mexer com esse eleitorado e de fato iniciar um sistema de transporte baseado na sustentabilidade ambiental e no compartilhamento justo do espaço público. Sem a limitação radical da circulação de veículos particulares motorizados as ruas continuarão sendo negadas as pessoas e o ar pesando nos pulmões de todos – motoristas e não-motoristas.

Esse projetos-espetáculo-polêmiquinhas, batizados de “operação alguma coisa” ou “lei fulano de tal”, são, via de regra, paliativos e miram engordar o capital político dos envolvidos e o favorecer financeiramente empresas, pessoas e governos. No caso do projeto de despoluição do Tietê tivemos os favorecimentos e tudo mais, mas, 15 anos depois, diante dos resultados nem de paliativo podemos chamá-lo.

Relacionados:
Relatório de qualidade do ar no Estado de São Paulo – 2006 (arquivo .zip)
Poluição do Ar (verbete wikipédia)

Technorati tags: poluicao, pollution.

Written by panopticosp

maio 17, 2007 at 21:02