Panóptico

Cores da marketagem

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grafite_palhacada.jpg

Afora os recentes estudantes de áreas ligadas à arte que utilizam o grafite em seus trabalhos, todo grafiteiro foi pixador e desenvolveu sua técnica pixando nas ruas.

Cada vez mais pixadores se interessaram por desenhos mais elaborados e com uma margem maior de expressão artística, já vistos fora do Brasil. Foram estes pixadores ainda sem a denominação de “grafiteiros” que deram unidade aos desenhos espalhados pela cidade, que estimularam outros a grafitar e fizeram com que o grafite se desenvolve-se no Brasil e, enfim, chega-se à massa para ser utilizado para fins variados.

A divisão entre pixação e grafite é uma divisão construída na cultura pop. Para a cultura de rua esta divisão não faz sentido teoricamente, embora na prática a atuação de pixadores e grafiteiros se separe.

A Puma, a Adidas, a Fiat, a Goodyear, a Suvinil ou qualquer outra empresa que “apoia o grafite” não tem nada a ver com esta história. Nenhuma delas deu uma lata de spray para algum pixador/grafiteiro ou deixou de perseguir àqueles que tentavam desenhar nos muros de suas propriedades antes do grafite ser aceito como estética motivadora de consumo.

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“Srs. grafiteiros o dinheiro economizado na manutenção será doado a instituição de caridade. Colabore. Viste xxx.org,br” | Tradução: Moleque, a nossa ONG pode fazer desenho bonitinho; você não (… também com esses desenhos agressivos, não dá). Se tentar, a prefeitura apaga. Venha aprender com a gente no xxx.org.br

Quem dançou foram os pixadores que permaneceram pixando “tags” monocromáticas e não migraram para os desenhos coloridos. Estigmatizados como gangues de rabiscadores que emporcalham a cidade, a prefeitura de São Paulo declarou que policiais os caçassem pelas ruas. A mão direita batia enquanto a esquerda levava os “jovens sem perspectiva” para a “rede de proteção social” de ONGs para que fossem “salvos”, deixassem essa vida de lado e “desenvolvessem sua capacidade artística” (e ainda tem possibilidade de “geração de renda”!)

Nenhuma ONG que hoje semanalmente dá oficinas sobre grafite deu uma lata de spray ou emprestou um pincel para alguém antes da coisa virar moda entre educadores sociais. Estes “jovens em situação de risco social” inventaram sozinhos e contra as autoridades e vigilantes privados uma forma de organização e expressão original – brasileira e paulistana. Literalmente a escalada social deles foi feita com as próprias mãos. Hoje, a invenção foi capturada para ser utilizada contra a própria liberdade artística de seus inventores.

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Muro cinza 1 X 0 Arte, artigo, apocalipse motorizado
Pixo, logo existo, artigo, Panóptico

Obs. Pixar (sic): grafia utilizada aqui em referênca àquela habitualmente utilizada pelos pichadores para pichar

Written by panopticosp

janeiro 9, 2008 às 20:13

Publicado em cultura urbana

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4 Respostas

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  1. […] Cores da marketagem Pixo, logo […]

  2. Se vc me permitir, gostaria de inverter a ordem de seus argumentos (não para negá-los, pois concordo com muito do q está escrito aí, mas para ampliar a reflexão). Será q não é possível entender esse fenomêno como uma invasão do ‘sistema’ pela cultura de rua, como se a arte q veio do gueto estivesse tomando o ‘centro’ de asalto? Será q não é o ‘sistema’ q está sendo cooptado? Digo isso pois é o que penso qdo vejo q Os Gemeos já grafitaram até um castelo na Escócia. Além disso, ainda tem esse povo da publicidade apelando pra periferia simplesmente pq não tem conteúdo nenhum, criatividade zero. E mais, uma propaganda na Veja nunca vai ser igual a um graffiti no muro. Graffiti é graffiti e ponto. Quem diria q akeles q um dia jogaram pedra hj estariam batendo palmas, hein. A moda um dia passa, mas a arte de verdade sempre há de prevalecer, nénão?

    Valeu!

    Pula o Muro

    janeiro 16, 2008 at 14:54

  3. é, verdade, dá para enxergar por esse lado. Mas acho que se o ‘sistema’ não tivesse escolhido esta estética teria escolhido outra que vingasse. As pesquisas são pra isso.

    O público apreciador de grafite, por exmplo, foi formado espontaneamente. Depois de tudo ok, é claro que a publicidade iria escolhe-la para suas campanhas.

    Ademais é injusto uma estética criada colaborativamente sem ninguem ganhar nada, depois de bem desenvolvida, ser utilizada para mega empresas ganharem muito.

    acho que é importante ver que saí ganhando na estória? vc é perseguido durante anos, uma galera começa a curtir o trampo, de repente virá a bola da vez, uma galeria, uma revista, um site começam a te pagar para desenhar. blz, finalmente foi reconhecido e tal.

    mas acho que é preciso ter em mente que é um uso temporário, só enquanto esta estetética tiver apelo comercial.

    acho que eles ‘engoliram’ porque a juventude de classe média consumidora se interessou pelo assunto, mas eles podem e vão cuspir a qualquer momento, por isso não considero uma vitória da periferia e sim um avanço na descriminalização da cultura de rua.

    valeu pelo comentário!
    abraço!

    panoptico

    janeiro 18, 2008 at 9:45

  4. […] maloqueiros puros, alguns grafiteiros conhecidos [como Flip, Zezão e Boleta – não, grafite e pixo não é a mesma coisa], pipoqueiros, skatistas, tatuadores, pintores. São de todas as zonas da cidade. […]


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