Nova calçada da Dr. Arnaldo, os obstáculos ficaram mais bonitos
Finalmente, na semana passada, foi inaugurada a nova calçada da av. Dr. Arnaldo, sentido Sumaré, no trecho das bancas de venda de flores. Sete meses para fazer uma calçada fora dos padrões do bom senso e dos estabelecidos pela própria prefeitura.
Via de regra, a formulação de um padrão não é coisa difícil, os jornais anunciam que o programa X entrará em ação, tudo parece bem, dá-se início à obra e logo a coisa se enrola, pedestres são jogados para a rua, pontos e linhas de ônibus ficam ninguém sabe onde. Depois da reforma (que estoura prazo e larga material de construção espalhado por todo canto), o cidadão entorta o nariz, vendo que não é bem como se via na campanha de divulgação.
Esta é a calçada indicada pelo programa municipal Passeio Livre. Nela o poste não fica no meio do caminho. Árvores, orelhões e lixeiras ficariam na chamada faixa de serviços.
Para obras de melhorias, os padrões governamentais são do tipo despadronizados, os padrões mudam de acordo com o dinheiro e o trabalho que acham que vale à pena dispensar aos cidadãos que delas desfrutarão.
Na rua Oscar Freire, a das lojas de luxo, a calçada foi alargada, há diversos bancos e toda a fiação foi enterrada. Na ocasião da inauguração, o realease da prefeitura não perdeu a oportunidade de dizer que não gostava de trabalhadores circulando pela região e que na calçada construída por eles, agora os “favorecidos” poderiam voltar a passear e comprar.
Poeira, marteladas e barulho acabaram. No lugar dos operários, homens e mulheres bem vestidos e com a aparência favorecida em todos os aspectos, voltam a circular pelas calçadas da rua Oscar Freire.
Na nova Dr. Arnaldo, onde tinha um poste ou árvore no meio do caminho, a prefeitura abriu uma meia lua, que, aparentemente, abriria o espaço necessário para que as pessoas com dificuldade de locomoção possam caminhar.
A prefeitura, porém, não perguntou se o cadeirante queira brincar de ficar enroscado entre uma árvore, um poste e um banquinho;
se na saída do metrô o cego queria brincar de fazer o oito;
se o cadeirante queria brincar na inclinação entre a árvore a sarjeta;
ou se o cara que acaba de ganhar um pino na perna queria pedir para que as pessoas sentadas nos banquinhos se levantem para ele passar com suas muletas.
Do outro lado da Dr. Arnaldo a coisa ficou descente e é possível rodar uma cadeira sem grandes problemas, mas a prefeitura achou que uma graminha ia bem e resolveu retirar um teco da calçada. Como é pouco espaço para muita gente, os pedestres são obrigados a caminharem pela faixa gramada, que já virou terra batida. Ademais é sempre bom constranger o cadeirante e de seus colegas pedestres quando, às 6hrs, na saída do metrô, na tal faixa de circulação um tem que desviar do outro e forma-se aquela fila de pedestres atrás do cadeirante aguardando a oportunidade de uma ultrapassagem.
A prefeitura não é louca de constranger o motorista e implantar uma faixa gramada numa das três faixas onde os automóveis rodam. Verde e terrenos permeáveis é o que todos querem para a cidade, mas só é possível entender porque é a calçada que diminuiu e não o terreno reservado às máquinas poluidoras, quando constatamos que, para os governantes, motoristas e seus carros valem mais que pessoas que só usam um par de sapatos, arroz, feijão e transporte público para se deslocar.
O interessante é que um trecho reformado do canteiro central da av. Dr. Arnaldo – que é cercado por correntes para que os pedestres não cortem caminho entre um lado e outro das seis faixas de asfalto quente, barulhento e nervoso – é lizinho e sem obstáculos, leva do nada à lugar nenhum.
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esse esço é perfeito para fazer uma peça de teatro ou coisa parecida!
heheheh idéia!
Mathias
novembro 8, 2007 at 12:01
Cara…que ridiculo uma coisa dessas…..o povo tá perdido se deixar esse tipo de responsa na mão dos politicos…cabe ao futuros arquitetos se cocientisarem e fazer coisas decentes ao invés de criar canteirinho bonitos na frente das casa…
Abraço.
Erick Serejo
junho 18, 2010 at 19:17